O choque de contextos
- Bruna Araujo
- 20 de out.
- 2 min de leitura

Desde o início da civilização, a humanidade tem avançado por meio de descobertas que mudaram radicalmente a forma como vivemos. O fogo trouxe calor, luz e alimento, mas também o risco da destruição. A roda impulsionou o transporte e o comércio, mas abriu caminho para guerras mais rápidas. A escrita preservou memórias e saberes, mas também passou a ser usada para manipular e controlar. A revolução industrial multiplicou a produção, mas aprofundou desigualdades e acelerou a degradação ambiental. A internet ampliou o acesso à informação como nunca antes, mas também deu origem à desinformação e a novas formas de exclusão.
Agora, chegamos à inteligência artificial, certamente a mais complexa das invenções humanas, porque ela não apenas amplia nossas capacidades, mas começa a replicar parte do nosso próprio raciocínio. Pela primeira vez, criamos algo que pode tomar decisões em nosso lugar. E aqui está o ponto crucial: ao longo da história, nunca foi a descoberta em si que definiu o futuro, mas a forma como nós, humanos, escolhemos utilizá-la.
A IA representa um marco sem precedentes. Nunca antes tivemos uma tecnologia capaz de aprender, adaptar-se e, em certa medida, simular processos cognitivos que julgávamos exclusivamente humanos. Seu poder é evidente: diagnósticos médicos mais precisos, soluções financeiras em tempo real, cidades inteligentes, avanços científicos acelerados. Ela multiplica a capacidade de análise, antecipa cenários e oferece caminhos que ampliam nossa visão de mundo.
Mas justamente nesse poder se escondem suas maiores limitações. A inteligência artificial não cria sentido, apenas processa padrões. Não sente empatia, apenas organiza dados. Não tem valores, apenas executa algoritmos. Pode nos mostrar a rota mais rápida, mas não é capaz de discernir se esse caminho é o mais justo, humano ou sustentável.
Foi sobre esse contraste que refleti recentemente em minha palestra para o ciclo da CBN: em um mundo marcado pela inteligência artificial, as conexões humanas não apenas resistem, elas se tornam ainda mais essenciais. Porque, embora máquinas possam calcular probabilidades, apenas o contato humano gera empatia, respeito, solidariedade e sentido. É nas conexões verdadeiras que encontramos a força para inovar, transformar e construir futuros mais justos.
Essa convicção nasce da prática. Tenho experimentado, ao longo da minha trajetória, como a autenticidade e o entusiasmo não apenas moldam uma carreira, mas também inspiram as pessoas ao redor. Quando nos apresentamos de forma íntegra, estabelecemos vínculos que ultrapassam cargos, títulos e algoritmos. Criamos histórias que permanecem vivas porque foram construídas com verdade, diversidade e pluralidade.
E é aqui que se revela o contraste essencial: a inteligência artificial se move pela lógica, pelos dados e pelos algoritmos. Já a ética humana se sustenta em valores, princípios e escolhas, muitas vezes ilógicas aos olhos da razão estrita, mas absolutamente indispensáveis para a preservação da dignidade e da vida.
A IA pode até acelerar decisões, mas somente as conexões humanas, podem transformar velocidade em sentido, e progresso em legado.
Glaucimar é é palestrante, mentora e conselheira, dedicada a fortalecer lideranças e impulsionar transformações sustentadas pelo desenvolvimento humano.



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