Mentoria: A Estratégia Mais Sustentável para Alavancar sua Carreira
- Bruna Araujo
- 25 de ago.
- 4 min de leitura
por Flávia Chaves

Introdução
A primeira vez que ouvi alguém me chamar de “mentora” eu nem sabia ao certo o que aquilo significava. Era uma jovem profissional que, após uma conversa nossa em um intervalo, me disse que eu havia feito mais por ela em uma hora do que anos de tentativas sozinha. Aquilo me marcou. Naquele momento, entendi que mentoria não é sobre ter todas as respostas, mas sim sobre estar disponível, fazer as perguntas certas e abrir caminhos. Desde então, mergulhei profundamente nesse universo e descobri algo que carrego comigo até hoje: ninguém sobe sozinho. A mentoria é uma das chaves mais potentes para a ascensão de carreira no mundo atual.
Mentoria: Muito além de conselhos
Muitas pessoas ainda confundem mentoria com dar conselhos ou ensinar o outro “como se faz”. Mas, ao contrário disso, mentorar é criar espaço para que o outro descubra como ele pode fazer do seu jeito. Como destaca Michael Bungay Stanier em Faça do Coaching um Hábito: Fale menos, pergunte mais e mude seu estilo de liderança (2019), o verdadeiro impacto está em perguntar mais e falar menos. A mentoria eficaz acontece na escuta, na pergunta certeira, na provocação gentil.
Ao longo da minha trajetória como líder, aprendi que mentoria não é sobre moldar alguém à sua imagem, mas ajudá-lo a reconhecer sua própria forma, seu ritmo, sua potência e para isso é importante não lidar com a mentoria como troca de experiencias e aconselhamento, mas ter um método potente e estruturado que gera transformações reais e significativas.
O cenário atual e a urgência de conexões significativas
Vivemos um tempo em que o conhecimento técnico se atualiza a cada segundo, mas as habilidades humanas — escuta, empatia, visão de futuro, coragem para decidir — continuam sendo diferenciais. O que muda, no entanto, é o contexto: lideranças mais horizontais, equipes diversas, ambientes ágeis e resultados exigidos em tempo recorde.
Nesse cenário, a mentoria surge como um catalisador de desenvolvimento profissional, pois oferece um espaço seguro de escuta, feedback e reflexão estratégica. Como afirma Simon Sinek em Comece pelo Porquê - Como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir (2018), pessoas inspiradas são mais engajadas e mais eficazes. Um mentor não inspira apenas pelo que sabe, mas por quem é e pelo porquê que carrega. E isso é contagiante.
Autoconhecimento e mentoria: uma via de mão dupla
Não é possível mentorar alguém verdadeiramente se não houver um movimento interno. A cada conversa com um mentorado, algo em mim também se transforma. Aprendo sobre escuta, sobre paciência, sobre respeitar tempos diferentes dos meus.
Ao aplicar insights do livro Cercado por Idiotas - Conheça os quatro tipos de comportamento humano e aprenda a se comunicar de maneira eficaz com as pessoas no trabalho e na vida (Erikson, 2020), aprendi que entender o perfil comportamental do outro é essencial para uma mentoria eficaz. Pessoas vermelhas, mais diretas, precisam de desafios. Pessoas verdes, mais colaborativas, precisam de confiança. Pessoas amarelas gostam de inspiração. As azuis, de estrutura.
Como mentores, somos tradutores de mundos. Ajustar a comunicação ao perfil do mentorado torna o processo muito mais potente.
A prática: do café à transformação
Mentoria não precisa começar formalmente. Alguns dos encontros mais transformadores que já conduzi começaram com um “posso te pedir uma opinião?”. Em muitos desses momentos, percebi que o que a pessoa precisava não era de uma resposta pronta, mas de alguém que a ajudasse a reorganizar os pensamentos, dar nome aos sentimentos e enxergar o próximo passo.
O livro Mentor Aprendiz (Domênico e Pessanha, 2005) reforça essa ideia ao mostrar que o mentor é também um aprendiz contínuo. Ao invés de uma hierarquia rígida de quem sabe e quem aprende, a mentoria assume um formato de parceria em que ambos crescem.
Ferramentas, estrutura e ética: o que sustenta a jornada
Ao aprofundar minha atuação como mentora, compreendi que ter uma estrutura é fundamental. Boas perguntas, uma escuta ativa e um planejamento do processo fazem toda a diferença. A obra Ferramentas de Mentoring (Vieira, 2021) oferece um repertório útil para organizar a jornada, desde a definição de objetivos até o encerramento da relação.
Mas para além da técnica, a mentoria é sustentada por ética e confiança. É um espaço que exige sigilo, generosidade e comprometimento. É saber quando falar e quando calar. É valorizar o caminho da outra pessoa, sem impor o nosso.
O impacto: mais do que promoção, transformação
Muitas mulheres e homens que acompanhei em seus processos de mentoria cresceram na carreira. Assumiram cargos maiores, criaram negócios, reinventaram suas trajetórias. Mas o maior ganho, a meu ver, foi interno. Tornaram-se mais conscientes, mais confiantes, mais protagonistas de si mesmos.
Como destaca John C. Maxwell em Mentoring 101: What Every Leader Needs to Know (2008), o verdadeiro líder não forma seguidores, forma outros líderes. E isso é exatamente o que a mentoria proporciona: uma multiplicação de pessoas que estão preparadas para influenciar positivamente o mundo ao seu redor.
Conclusão: ninguém sobe sozinho
Se hoje posso afirmar que mentoria transforma, é porque vi isso acontecer inúmeras vezes — inclusive comigo. Cada mentor que encontrei (ou que me encontrou) foi uma peça essencial para que eu pudesse ver o que antes era invisível para mim.
Como Dale Carnegie nos lembra em Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (2019), o poder está em fazer o outro se sentir importante — e isso não é bajulação, é humanidade. A mentoria é isso: um convite para ver e ser visto. Para crescer e fazer crescer. E, sobretudo, para não subir sozinha.
Flavia Chaves é Diretora do Executiva do Programa Nós por Elas, CEO & Fundadora da FCF Desenvolvimento de Pessoas e Especialista em Formação de Líderes, Mentoria Corporativa e Desenvolvimento de Alto Desempenho



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